Apurem-se as responsabilidades

Um jovem português de 23 anos, que estava internado numa clínica psiquiátrica suíça, morreu em condições misteriosas, existindo fortes indícios de negligência grave por parte dos serviços hospitalares helvéticos e da embaixada de Portugal em Berna.
Tiago Jorge era um fumador compulsivo de charros de canábis e por vezes evidenciava alguns sinais de desequilíbrio emocional e psíquico, tendo sido internado na clínica psiquiátrica de Munsingen, no dia 12 de Outubro de 2006, com o consentimento dos pais, a fim de se tratar. Desde essa data, o Tiago terá telefonado por diversas vezes para a Embaixada de Portugal em Berna, a pedir ajuda, mas o técnico de serviço social da embaixada que acompanhava o seu caso apenas lhe terá aconselhado calma... e nada mais! Os pais do Tiago viram o filho pela última vez no dia 17 de Dezembro de 2006, pois a partir daí nunca mais lhes foi autorizada a visita ao filho. Mesmo depois deste ter sido transferido para o Hospital Insel, de Berna, por alegadamente ter piorado o seu estado de saúde. No dia 8 de Janeiro de 2007, o Tiago morreu no referido hospital e nem depois da sua morte os pais foram autorizados a ver o corpo do filho. Quatro dias depois foi-lhes entregue as cinzas do filho, por uma Agência Funerária, o seu corpo tinha sido cremado. Os pais do Tiago continuam sem saber as causas da morte do filho, pois na certidão de óbito do mesmo, nada consta.
O embaixador de Portugal na Suíça, Eurico de Paes, diz já ter pedido ao hospital os relatórios sobre o sucedido, não tendo obtido resultados até ao momento e que os factos já foram levados ao conhecimento do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A situação é demasiado grave, pois envolve a morte de um jovem emigrante português em condições enigmáticas, que deverão ser esclarecidas não apenas no que respeita à acção dos serviços e autoridades hospitalares suíços, mas também no apuramento de responsabilidades dos serviços da embaixada de Portugal em Berna em relação ao acompanhamento deste caso. Apesar de não se poder atribuir uma relação de causalidade entre a eventual existência de incúria por parte dos serviços da embaixada e a morte do jovem português, será curial que o MNE proceda de imediato à instauração de um inquérito que permita aferir a qualidade da intervenção e o nível de responsabilidade dos seus funcionários, nomeadamente no que respeita à acção destes últimos no acompanhamento e apoio que terá ou não sido prestado ao jovem Tiago e aos seus pais.
É necessário encontrar respostas a algumas questões inevitáveis: Que tipo de diligências foram feitas e quando, pelo técnico de serviço social da embaixada que acompanhou o caso? Existem relatórios e foram os mesmos levados ao conhecimento superior? Porque razão não foi promovida uma qualquer visita a um jovem que se encontrava internado num hospital e que, de forma desesperada, pedia insistentemente ajuda à embaixada? Qual a informação trocada entre os serviços da embaixada e os pais do jovem Tiago que, também estes, terão contactado os serviços portugueses? Que acções foram desenvolvidas pelos serviços da embaixada de Portugal em Berna?
A comunidade portuguesa na Suíça e os pais do Tiago em particular, têm o direito de saber se o Ministério dos Negócios Estrangeiros está a tomar alguma iniciativa que vise apurar responsabilidades até às últimas consequências no seio da Embaixada de Portugal em Berna, sobretudo no plano administrativo e se vai agir de acordo com as conclusões. É uma questão de dignidade do próprio Estado e uma forma de garantir o futuro e o restabelecimento da confiança por parte dos utentes.

Mensagens populares deste blogue

Painel de azulejos assinala presença portuguesa em Genebra

Complot dita fim do programa PORTUGALIDADES

O implícito do óbvio