2 de outubro de 2011

Um embaixador "orgulhosamente inútil"

A maioria dos portugueses na Suíça interroga-se sobre o trabalho do embaixador português nesse país. Com mais ou menos conhecimentos sobre as tarefas que incumbem ao representante máximo de Portugal na Confederação Helvética, ambos partilham o mesmo sentimento: existe um grande défice de representação.

E este sentimento comum acaba de atingir o ponto máximo. Após mais de 30 dias a esbarrarem nas portas fechadas das chancelarias consulares e diplomáticas portuguesas, continuam sem perceber qual o papel do embaixador de Portugal em Berna. Há mesmo quem se interrogue se o nosso país tem qualquer representante diplomático acreditado na capital suíça.

É confrangedor aquilo que a comunidade portuguesa na Suíça está a testemunhar. No momento em que as dificuldades da luta diária para sobreviverem a uma crise económica e financeira devastadora lhes vai retirando forças e ânimo, acresce agora aos nossos compatriotas o sentimento de desprezo e abandono absolutos por parte daquele que tinha a obrigação e o dever de marcar presença nos seus espíritos, reservando-lhes, no mínimo, palavras de conforto e de esperança no futuro.

Não vou lembrar aqui, ao embaixador de Portugal em Berna, em que consistem todas as funções de uma missão diplomática, no âmbito da “Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas”, nomeadamente a de «proteger no Estado acreditado (Suíça) os interesses do Estado acreditante (Portugal) e os seus nacionais, dentro dos limites permitidos pelo direito internacional».

Tenho a obrigação de lhe lembrar, isso sim, é que grande parte da relação formal entre um embaixador e a comunidade do Estado que o mesmo representa, demonstra-se com respeito e preocupação mútua. O trabalho de um embaixador é, entre outras coisas, mostrar esse respeito.

Parte do trabalho de um embaixador é dar a cara. Não se ficar pelos corredores dos Ministérios ou dos salões das Embaixadas é muito importante.

Não tenho ideias preconcebidas sobre o que faz um embaixador e da postura que deve ter. É importante que cada embaixador seja ele próprio, e existem muitas maneiras diferentes de se ser embaixador e muitos estilos diferentes.

O que não tenho dúvidas é de que a parte mais importante no relacionamento entre o embaixador de Portugal e a comunidade portuguesa na Suíça, é a parte humana. É isso que importa, especialmente em momentos de grande dificuldade.

É por isso mesmo que os emigrantes portugueses na Suíça não querem continuar a viver o fantasma de um embaixador orgulhosamente inútil.