Embaixador anima oposição

Já todos nos apercebemos há muito tempo que as diversas manifestações de oposição à reforma consular surgidas em França, não são de cariz espontâneo mas antes organizadas pelos sectores do Partido Social Democrata (PSD) em França, com o apoio da Direita francesa. Nas últimas semanas temos assistido a intensas movimentações de dois ex-secretários de Estado das Comunidades do PSD e actuais deputados pela emigração, Carlos Gonçalves e José Cesário - este último eleito pelo círculo de Fora da Europa mas, “estranhamente” muito preocupado em visitar os portugueses residentes no continente europeu, como se nada tivesse para fazer no seu círculo eleitoral. Para dar rosto à contestação, nada melhor que um grupo de conselheiros do CCP militantes ou simpatizantes do PSD e uns poucos do Partido Comunista, com o presidente do CCP, Carlos Pereira à cabeça.
Mas o que pode constituir um caso muitíssimo grave será o envolvimento do embaixador de Portugal em França, António Monteiro - um fundamentalista “laranja” e cavaquista dos sete costados – na contestação à reestruturação consular.
Em comunicado divulgado a 25 de Janeiro deste ano pela secção de França do CCP, após um encontro de uma delegação deste órgão com o embaixador de Portugal em Paris, é afirmado que «o Embaixador de Portugal considerou que a proposta de reestruturação consular apresentada pelo Conselho das Comunidades é boa, coerente e completa». Ainda no mesmo comunicado pode ler-se que «o Embaixador António Monteiro também defende um serviço consular de proximidade e, desta forma continua coerente com a posição que teve enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros, quando suspendeu o encerramento de consulados (...)».
Ora, a proposta do CCP é de oposição total ao plano de reforma consular do governo, pelo que não tendo havido qualquer desmentido por parte da embaixada de Portugal em Paris, é por demais óbvio que António Monteiro está contra o governo no que respeita à reforma consular e não se coíbe de dar força anímica ao grupo de opositores. Sendo António Monteiro um homem de confiança de Cavaco Silva, o alerta está dado e o governo socialista e, particularmente o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga, terá que medir forças com uma corrente presidencial que se opõe à estratégia de reforma consular delineada pelo governo.
Tendo em conta os objectivos enunciados no plano de reforma consular do governo, este não poderá vacilar, sendo esta uma ocasião soberana para o Primeiro-Ministro, José Sócrates, reafirmar que quem tem legitimidade para governar é o Governo e não o Presidente da República (PR), e que os embaixadores em missão estão ao serviço do país e não das oposições partidárias ao governo. Lembre-se que António Monteiro tem agora um comportamento diferente daquele que teve quando também ele era embaixador de Portugal em França e o governo do “seu” PSD encerrou uns tantos consulados nesse país. Nessa ocasião ninguém o viu a animar contestações e oposições ao encerramento dos consulados, ou sequer fazer afirmações de repúdio à reforma consular do governo de então.
Se é necessário reestruturar a rede consular portuguesa, avance-se sem recuos ou hesitações, quer o PR e os seus embaixadores gostem ou não gostem. A bem de Portugal e do governo, o que é importante é competência na decisão e firmeza na acção. De outro modo, o governo e o PS, aos olhos dos emigrantes portugueses, estarão irremediavelmente derrotados.

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